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Investigação em curso: Paysandu se manifesta ao MPPA e apresenta defesa

O Paysandu está encerrando o ano de 2025 em um contexto de instabilidade, marcado por problemas esportivos, tensões políticas internas e desafios financeiros. Esses aspectos têm sido destacados em reportagens recentes do portal DOL.

Contas de 2024 e 2025 serão analisadas pelo Condel do Payandu. | Foto: Jorge Luís Totti/Paysandu

Com desempenho esportivo aquém do esperado, desavenças políticas, exigências por transparência e pressão financeira, o Lobo enfrenta uma crise de múltiplas facetas, que tem colocado o clube no centro das discussões sobre administração, sustentabilidade financeira e direção institucional.

O mais recente capítulo diz respeito à acusação de gestão irresponsável apresentada por conselheiros do clube ao Ministério Público do Pará (MPPA), juntamente com a apresentação da defesa ao órgão na quarta-feira, dia 17.

A defesa administrativa apresentada pelo Paysandu ao órgão investigativo, no contexto da Notícia de Fato nº 01.2025.00031986-3, não abordou diretamente muitas das inconsistências contábeis mencionadas na representação que originou o procedimento.

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O clube recebeu uma notificação da 2ª Promotoria de Justiça de Tutelas das Fundações Privadas e Associações de Interesse Social, solicitando esclarecimentos a respeito de possíveis irregularidades financeiras e contábeis relacionadas aos exercícios de 2021 a 2024.

O conselheiro Frederico José Silva de Carvalho apresentou a denúncia, que foi acompanhada de documentos, pareceres técnicos e relatórios contábeis.

Um dos principais aspectos destacados na denúncia é a significativa variação nos valores do patrimônio imobilizado do clube entre os meses de novembro e dezembro de 2022. Conforme o relatório técnico anexado à representação, o saldo do imobilizado em 30 de novembro daquele ano era de R$ 77,2 milhões. No entanto, o balanço de encerramento do exercício em 31 de dezembro registrou um aumento de cerca de R$ 19 milhões em apenas 30 dias, totalizando R$ 96,2 milhões.

Na defesa apresentada ao MPPA, o Paysandu não fornece memorial contábil, nota explicativa ou laudo técnico que explique essa diferença. O documento se restringe a declarar que as contas foram examinadas e aprovadas pelos órgãos internos do clube.

Outra irregularidade apontada na denúncia refere-se à eliminação da conta de compensação, que totalizava R$ 50,8 milhões no balancete de novembro de 2022 e não foi incluída no balanço anual. A defesa não explica se a rubrica desapareceu devido a uma reclassificação, baixa contábil ou ajuste técnico.

Além disso, a declaração do clube não fornece uma explicação para a diminuição do ativo total no mesmo período, que caiu de R$ 149,4 milhões para R$ 116,4 milhões, resultando em uma variação negativa de aproximadamente R$ 33 milhões.

A defesa argumenta que as contas dos exercícios de 2021 a 2023 foram aprovadas de maneira regular, e que as contas de 2024 receberam aprovação durante a Assembleia Geral Ordinária realizada em 15 de dezembro de 2025. Nesse sentido, o clube alega que a Notícia de Fato teria perdido seu objeto.

No entanto, a ata da reunião do Conselho Deliberativo que aprovou as contas de 2024 indica que o parecer do Conselho Fiscal sugeriu a aprovação com ressalvas.

Além disso, o documento menciona manifestações de conselheiros que pediram acesso ao livro razão, relataram problemas para acessar documentos contábeis e ressaltaram a falta de notas explicativas em relação às inconsistências detectadas pela auditoria independente. Embora houvesse essas manifestações, a maioria dos conselheiros presentes aprovou as contas.

A denúncia ao MPPA é acompanhada de um relatório técnico redigido pelo contador Marivaldo Silva, com data de 29 de setembro de 2025. O documento destaca discrepâncias entre os valores publicados no Portal da Transparência do clube e os apresentados em relatórios de auditoria independente. Além disso, recomenda a solicitação de extratos bancários, contratos de empréstimo, registros patrimoniais e relatórios de controle interno.

Na defesa administrativa, o Paysandu não contesta tecnicamente o conteúdo do relatório nem fornece documentação suplementar que contradiga as conclusões do contador. O documento não faz referência ao laudo nem fornece esclarecimentos específicos a respeito dos pontos mencionados.

A denúncia também levanta questões sobre o Conselho Fiscal, mencionando atrasos na emissão de pareceres e um possível conflito de interesses relacionado a dirigentes que teriam estado em gestões anteriores e, depois, fiscalizado suas próprias contas.

A defesa do clube não aborda essas acusações de forma direta, apenas declara que os órgãos estatutários operaram de maneira regular e que as contas foram aprovadas de acordo com o estabelecido no Estatuto Social.

O questionamento da atuação do MPPA constitui outro eixo fundamental da defesa, o Paysandu afirma que os acontecimentos descritos se referem a questões internas da associação e que não houve violação de direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos que justificasse a intervenção ministerial.

Reprodução Instagram / Paysandu

A defesa argumenta ainda que os valores obtidos por meio de contratos de patrocínio com o Banco do Estado do Pará (Banpará) não são de natureza pública, uma vez que se trata de uma instituição financeira de direito privado. Isso, segundo o clube, elimina qualquer obrigação usual de prestação de contas de recursos públicos.

Ao término da manifestação, o Paysandu solicita o arquivamento da Notícia de Fato, alegando falta de gestão temerária, perda do objeto devido à aprovação das contas de 2024 e inadequação da via escolhida pelo denunciante.

Até agora, o MPPA não divulgou publicamente se aceitou ou não as explicações fornecidas. A análise do procedimento ainda está em andamento e pode resultar em seu arquivamento, solicitação de documentos adicionais ou extensão das investigações, de acordo com a decisão da Promotoria.