Volante sabe que a situação é complicada, mas não impossível de ser revertida | Ramón Martínez / Instagram

Bomba financeira: pedidos de rescisões judiciais já passam de R$ 4 milhões no Paysandu

O Paysandu enfrenta uma crise que vai além do campo e atinge fortemente os bastidores jurídicos e financeiros. Enquanto planeja a temporada de 2026, o clube enfrenta pressão devido a várias ações trabalhistas movidas por jogadores do elenco de 2025. Todas essas ações têm um ponto em comum: o pedido de rescisão indireta por descumprimento contratual.

Paysandu: quarteto pediu rescisão contratual na justiça por atrasos salariais. | Ascom/Paysandu

Até o momento, quatro jogadores já recorreram à Justiça do Trabalho, totalizando R$ 4.044.000,49 em valores de causa. Eles também já obtiveram decisões liminares que impactam diretamente o time e a estrutura interna do Paysandu. Três jogadores foram autorizados a jogar por outros times, enquanto apenas o caso de maior valor, o de André Lima, teve a liminar recusada, pelo menos por ora.

No processo mais substancial, André Lima, cujo pedido excede R$ 1,6 milhão, apontou atrasos salariais, não pagamento de direitos de imagem, falta de depósito do FGTS desde julho e interrupção total dos repasses desde setembro, além da ausência de pagamento do auxílio-moradia.

O Paysandu expôs uma defesa abrangente, alegando que parte dos recursos diz respeito a contratos de imagem entre pessoas jurídicas, questão que está sendo discutida no STF, e que os salários de setembro e outubro teriam sido quitados, acrescentando que a imagem é remunerada no mês seguinte.

André Lima (Foto: Jorge Luís Totti)

O juiz reconheceu a existência de vínculo empregatício e rejeitou a ideia de suspensão automática do processo. No entanto, apontou que há discrepâncias documentais significativas e risco de irreversibilidade se a tutela fosse concedida. Por essa razão, a liminar foi negada, e André permanecerá no clube até a audiência agendada para fevereiro.

O caso de Pedro Delvalle, no valor de R$ 914.919,62, apresentou documentação considerada sólida, incluindo comprovantes de FGTS não depositado de julho a outubro, direitos de imagem de setembro e outubro pendentes e salário de outubro não quitado. A Justiça decidiu que a Lei Geral do Esporte permite rescisão indireta após dois meses de inadimplência. Ao constatar que os atrasos ultrapassavam esse prazo, autorizou Delvalle a jogar por qualquer clube, notificando a FPF e a CBF.

No caso de Ramon Martínez, avaliado em R$ 808.005,48, o jogador apresentou um dos fatores mais determinantes em disputas desse tipo: extrato do FGTS com cinco meses sem depósitos, sendo o mais recente efetuado em junho. A Justiça enfatizou que a carreira de um atleta é breve e que impedir o jogador de trabalhar resultaria em um prejuízo irreparável, mencionando também precedentes do TST. Assim, deferiu a rescisão indireta provisória, liberando Martínez de imediato e estipulando multa diária em caso de descumprimento.

Atacante alviceleste Pedro Delvalle - Crédito: Reprodução/Redes sociais do atleta
Atacante alviceleste Pedro Delvalle – Crédito: Reprodução/Redes sociais do atleta

O padrão identificado é reforçado pelo caso de Dudu Vieira, no montante de R$ 705.045,39: salários atrasados, direitos de imagem pagos parcialmente e FGTS não depositado desde junho. A documentação foi considerada adequada para demonstrar mora contumaz, e o magistrado concluiu que a permanência do atleta vinculado ao clube poderia prejudicar sua carreira, principalmente em função da proximidade das janelas de transferência. A tutela foi concedida, e Dudu também recebeu autorização para jogar por outra equipe.

Entretanto, em audiência realizada na quinta-feira passada (11), a juíza decidiu suspender o processo porque a ação envolve questões relacionadas a pedidos de pessoa jurídica ou pejotização, uma vez que o contrato de imagem foi firmado entre o Paysandu e uma empresa vinculada ao atleta. Além disso, quando se trata de relação entre pessoas jurídicas, o processo trabalhista deve ser suspenso até que o STF tome uma decisão definitiva sobre o assunto.

A análise combinada das decisões mostra um padrão claro e recorrente nos processos, indicando dificuldades estruturais na gestão financeira e contratual do Paysandu. Todos os atletas afirmam que há atrasos nos salários, falta ou inconsistência no pagamento dos direitos de imagem e, sobretudo, que o FGTS não é depositado por vários meses consecutivos, o que foi considerado pelos juízes como um fator decisivo.

Em todas as situações, os jogadores invocam a Lei Geral do Esporte, que determina a rescisão indireta quando a inadimplência ultrapassa dois meses, e argumentam que a permanência no clube interfere diretamente no exercício de sua profissão. As decisões favoráveis corroboram a noção de que a Justiça identificou um padrão de inadimplência e a necessidade de assegurar a continuidade da carreira dos atletas.

Dudu Vieira apresentado pelo Paysandu

Apesar de compartilharem o mesmo núcleo de queixas, os casos exibem diferenças significativas. O processo de André Lima é o único em que o Paysandu apresentou uma defesa completa antes da análise da liminar, contestando os pagamentos de maneira detalhada e afirmando a existência de contratos civis de imagem firmados entre pessoas jurídicas, um argumento que não foi apresentado nos outros casos.

Ademais, a documentação fornecida por Martínez é consideravelmente mais robusta, com extrato do FGTS comprovando cinco meses sem depósitos, o que reforçou de maneira decisiva sua argumentação. Os atrasos salariais estão mais evidentes em Delvalle e Dudu Vieira, ao passo que o caso de André requer mais esclarecimentos em audiência.

Com três jogadores liberados e outro processo de milhões em andamento, o Paysandu inicia a temporada de 2026 sob intensa pressão legal, administrativa e esportiva. O passivo trabalhista, atualmente superior a R$ 4 milhões, pode crescer devido a juros, multas e implicações legais, além de afetar o planejamento do elenco e demandar respostas imediatas da diretoria. Enquanto enfrenta uma das maiores crises trabalhistas de sua história recente, o clube precisará apresentar documentos comprovando pagamentos e regularizações para tentar reverter decisões e prevenir o surgimento de novas ações.